As atenções estão focadas na cidade recetora da cimeira, Glasgow, na Escócia, que decorrerá entre 31 de outubro a 12 de novembro, sendo esperadas várias perso-nalidades e a mobilizam nas ruas de ativistas e organizações climáticas e ambientais, para além de líderes mundiais. “A grande última oportunidade para retomar o controlo” do Clima, é assim que a COP26 (vigésima sexta Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas) é nomeada, deixando grandes espetativas sobre as solu-ções políticas que dela saírem.
Será realmente este um ponto histórico de viragem, ou continuarão a ser entregues promessas vazias desprovidas de caráter vinculativo? A COP26 é a crónica de uma morte anunciada de uma intenção de reverter as alterações no clima. Os objetivos para a Conferência das Partes falham quanto pela insuficiência inerente à natureza das propostas em debate, quanto pela inconsequente implementação que se espera e a que estamos habituados.
A atitude confiante na vontade de fazer mais que emergiu na COP21, em 2015, que ficou marcada e conhecida pela assinatura do Acordo de Paris, apareceu como uma ideia distante na última COP, em Madrid no ano de 2019. Não existir entendimento e convergência para o alcance das metas climáticas que a ciência alerta, para uma ação climática global alinhada, é meio caminho andado para a 6.ª extinção em massa na Terra.
Desde que existe vida humana no planeta, a última década foi a mais quente de que há registo! O mundo corre o risco de atingir o limiar de 1,5°C por volta de 2030, dez anos antes do estimado. Perante a observação inexorável da ciência e da crescente intensificação de fenómenos climatológicos extremos – inundações, tempestades, incêndios, secas e ondas de calor – que já chegaram a todas as latitudes do globo, a solução é inequívoca: urge proceder a uma transição energética justa, que faça cortes drásticos das emissões de gases de efeito de estufa para fazer face à crise climática, mas que não deixa ninguém para trás, garantindo o trabalho digno e a justiça social.
Cada país devia, ao abrigo do Acordo de Paris, rever até ao final de 2020 a sua Contribuição Determinada a Nível Nacional, mas até ao fim de julho deste ano, apenas 113 países, responsáveis por cerca de metade das emissões globais, apresentaram os compromissos revistos. Na última avaliação da ONU aos compromissos de redução de cerca de 200 Estados, concluiu-se que há um aumento de 16% nas emis-sões de gases causadores de efeito de estufa em 2030 em relação a 2010, de acordo com o estudo.
E o que significa isto? Um aquecimento catastrófico de 2,7ºC, longe do objetivo de um acordo cujo fracasso não surpreende. O nosso futuro não pode ficar nas mãos de ações voluntárias dos países, que resistem em perpetuar o business as usual e o status quo dos combustíveis fósseis.
Decisores políticos continuam a pôr a nossa sobrevivência em risco com os seus discursos vazios e falta de promessas firmes, situação esta que já se prolonga por mais 30 anos. E já era hora do movimento de massas voltar às ruas, porque nós sabemos que a mudança necessária não virá de políticos, não acontecerá com negociações. A mudança surge das pessoas que se mobilizam nas ruas para exigir justiça climática, conscientes de que é necessário, mas não suficiente, cortar emissões.
A crise climática tem de ser resolvida pelas suas raízes, rompendo com o sistema, movido pelo lucro e por um conjunto de opressões e desigualdades sociais que lhe dão força, e que nos tem conduzido ao caos climático. As indeminizações aos MAPA devem ser pagas pelas injustiças históricas da elite mais rica: a redução drástica de emissões no Norte Global, igualdade de vacinas, cancelamento de dívidas e financiamento climático na ajuda a países mais afetados – e que são os que menos contribuíram para o estado atual das coisas – são apenas o começo.
É preciso um movimento global, interconetado, plural que reconheça o perigo que a crise climática significa nas nossas vidas. Não há espaço para mais promessas vazias.