Estamos em crise. Nos últimos 2 meses, estiveram mais de 50ºC no Canadá e temperaturas muito abaixo do zero em África, a Alemanha e a Bélgica estiveram debaixo de água¹, e o mar esteve literalmente a arder no Golfo do México². Não é possível negar os efeitos da crise climática nem o falhanço das instituições.
As alterações climáticas têm causado graves consequências na vida das pessoas, com evidência na falta e redução de qualidade de recursos essenciais, como ar, água, comida e saneamento. A falta de condições dignas à vida é um dos maiores motivos para o agravar de problemas sociais, como guerras e migrações.
Não podem ser sempre as mesmas pessoas a pagar por todas as crises – minorias étnicas, pessoas LGBTQIA+³, mulheres e pessoas trabalhadoras. Como a sociedade em que vivemos é baseada em injustiças sociais, sabemos que, em qualquer crise, não vamos ser todas afetadas da mesma forma. Já sentimos isto no acesso desigual aos serviços de saúde, à habitação, à mobilidade, à educação, ao emprego e às vacinas.
Estamos todas na tempestade, mas não estamos todas no mesmo barco. A crise climática vai afetar todas as pessoas, mas enquanto que uma minoria brinca aos foguetões, a grande maioria apercebe-se cada vez mais de que não há planeta B.
Não queremos voltar à normalidade, queremos um novo normal. O sistema em que vivemos está baseado no mito de que é possível manter um crescimento económico infinito num planeta com recursos finitos. Temos de romper com uma visão de exploração contínua da natureza e das pessoas. É preciso mudar a sociedade orientada pelos interesses do lucro para uma que tenha a vida no centro. É nosso dever garantir uma transição justa.
NÃO BASTA BAIXAR AS EMISSÕES PARA RESOLVER A CRISE CLIMÁTICA.
Antirracismo
Não basta baixar emissões, é preciso reconhecer responsabilidade histórica⁴. A questão étnico-racial é determinante na capacidade de enfrentar a crise climática. São as comunidades racializadas tanto do Sul como do Norte Global⁵ algumas das que estão na vanguarda da luta social.
LGBTQIA+
Não basta baixar emissões, é preciso reconhecer a violência a que a comunidade LGBTQIA+ está exposta, seja ela física ou psicológica. O sistema atual utiliza o preconceito e a intolerância como instrumento político para a marginalização e divisão social, permitindo a exploração e criação de lucro. Assim, esta comunidade sofre em primeira mão com as consequências sociais da crise climática. É necessário criar um novo normal com um planeta presente e futuro seguro a todos os níveis. Sem esta revolução, a nossa vida está em risco.
Feminismo
Não basta baixar emissões, precisamos de uma visão feminista, que coloque o cuidado no centro da vida. Na sociedade patriarcal em que vivemos, o papel de cuidadora cabe apenas às mulheres. Um novo normal distribui o trabalho de cuidados por todas as pessoas, permitindo que a economia esteja focada no usufruir do tempo e num verdadeiro espírito comunitário.
Sabemos que as mulheres estão em grande desvantagem no que toca aos impactos das alterações climáticas, enfrentando maiores riscos de saúde devido a tempo extremo, a insegurança alimentar, a doenças infeciosas, saúde mental e saúde reprodutiva. É por isso que a luta por justiça climática tem de ser feminista.
Habitação
Não basta baixar emissões, é urgente responder à crise na habitação, um problema estrutural no nosso país. Falamos de problemas como os elevados custos com habitação, as casas desocupadas que o sistema não permite que funcionem como abrigo para as pessoas que delas necessitam, a pobreza energética⁶, as comunidades mais pobres que são sistematicamente afastadas dos centros das cidades. As consequências da crise climática são devastadoras para quem não tem condições básicas asseguradas. Resolver este eixo é crucial para garantir igualdade social. Por isso, para resolver a crise climática, reivindicamos a resolução da crise habitacional.
Para mudar tudo precisamos de todas as pessoas. Resolver a crise climática exige a maior mobilização social de sempre. Temos a oportunidade de construir uma sociedade que coloque a vida no centro.
Não há tempo a perder e temos tudo a ganhar!
¹ https://observador.pt/2021/07/17/pelo-menos-157-mortos-nas-cheias-que-atingiram-alemanha-e-belgica/
² https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2021-07-03-mar-em-chamas-aconteceu-no-golfo-do-mexico-e-ha-videos-que-mostram-o-incendio-de-grandes-dimensoes/
³ A comunidade LGBTQIA+ envolve todas as diversas possibilidades de orientação sexual e identidade de género que existam. As letras da sigla representam: L – Lésbica, G – Gay, B – Bissexual, T – Trans, Q – Queer, I – Intersexo, A – Assexual.
⁴ Não basta baixar emissões para resolver a crise climática. A justiça climática reconhece que historicamente existem responsáveis por esta crise: os países do Norte Global foram os que emitiram mais gases com efeito de estufa a nível global. Por outro lado, são os países do Sul Global que mais sofrem com as consequências. Assim, é preciso que este corte nas emissões não afete mais quem é menos responsável, e que responsabilize quem é mais responsável.
⁵ O Norte Global é um termo utilizado para se referir ao conjunto de países colonizadores e imperialistas, na sua maioria localizados no Norte geográfico. Em contraste, o Sul Global é um termo utilizado para se referir aos países geralmente do Sul geográfico que sofreram um histórico de colonialismo e neocolonialismo.
⁶ O termo pobreza energética corresponde a uma situação em que um agregado familiar não consegue pagar a energia necessária para manter a sua casa a uma temperatura adequada ou quando é obrigado a alocar uma parte excessiva do seu rendimento para pagar a fatura energética. A pobreza energética é um problema que resulta de má construção das casas, baixos salários e um elevado preço de eletricidade.
Organizações subscritoras:
A Coletiva
Alternative International Movement
Aveiro Sem Armários
Braga Animal Save
CADP – Células Antifascista de Defesa Popular
Campanha Linha Vermelha
CIDAC
Civitas Braga
ClimAção Centro
Climate Save Portugal
Climáximo
Com Calma
Cooperativa Mula
Coordenadora Antifascista Galega
Europe Direct Algarve
Movimento Antifascista do Porto
Movimento Antifascista Ibérico
Núcleo Antifascista da Feira
Núcleo Antifascista de Aveiro
Núcleo Antifascista de Évora
Núcleo Antifascista Braga
Ocean Alive
Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGay Transfobia
Plantar Uma Árvore
Quinta dos Sete Nomes
Sapato Verde
Sciaena
Sindicato dos Médicos da Zona Sul
Sindicato Nacional da Proteção Civil
SOS Racismo
The Revolution will not happen in your Screen
Ultras Contra o Racismo
UMAR – União de Mulheres Alternativa
e Resposta
União Antifascista Portuguesa