Greves & Ações

Manifesto da Greve de 19 de Março

A nossa casa está a arder. 

A nossa casa está a arder. A nossa sociedade foi abalada no último ano, mas está na hora de apagar o fogo. Quando a nossa casa está a ser consumida por chamas, não nos podemos dar ao luxo de esperar 10, 20 ou 30 anos para agir. Não há tempo a perder para pegar nos extintores. 

Ninguém escolheu estar a viver numa crise, quanto mais em várias, mas temos de fazer tudo o que podemos no tempo que nos resta. Temos a responsabilidade de sair destas crises – pandémica, económica, migratória, social e climática -, desta vez com alicerces mais fortes. 

Num período tão incerto como este, sabemos algo com toda a certeza: a crise climática vai exacerbar todas estas crises caso não seja travada a tempo. Mas, se agirmos agora e em conjunto, ainda há volta a dar! 

Temos de apagar o fogo agora. 

Temos menos de 10 anos para impedir que se chegue aos 1.5ºC de aquecimento global em relação aos níveis pré-industriais. 

Os ponteiros não param de girar, nunca pararam. Desde as primeiras marchas do clima até ao despontar de uma crise de saúde que abalou o mundo inteiro, o relógio continuou a contar. Com o fogo a avançar, arderam florestas, derreteram calotes polares, extinguiram-se espécies, furaram-se terras em busca de petróleo e foram emitidos mais gases com efeito de estufa do que nunca. Enquanto a nossa casa está a ser consumida pelas chamas, as empresas de combustíveis fósseis continuam em busca de mais territórios e pessoas para explorar, furando o nosso futuro. E enquanto isto, governos e instituições olham para o lado, ignorando e deixando para depois a maior crise que a humanidade alguma vez enfrentou. 

Se continuarmos nesta trajetória de aumento das emissões de gases com efeito de estufa, no dia 19 de março de 2021 teremos 6 anos e 287 dias até que seja impossível não ultrapassar os 1.5ºC de aquecimento em relação a níveis pré-industriais. Não podemos aceitar nem mais uma promessa vazia, nem de governos, nem de instituições, nem de CEOs. Não podemos esperar nem mais um minuto. 

O tempo de agir é agora. 

Ao contrário daquilo que os decisores políticos pensam, “agir” não significa emitir. Portugal precisa de cortar entre 60 a 70% das emissões de gases com efeito de estufa até 2030. Isto significa a maior mudança da nossa era. Não há espaço para projetos que aumentem as emissões. 

Face à urgência que temos para tudo mudar, erguemo-nos numa sociedade baseada em combustíveis fósseis para realizar uma transição que vise uma sociedade ecológica e socialmente justa. Uma transição justa tem de ter em conta tanto as pessoas agora empregadas nos setores poluentes, como as pessoas que foram mais abaladas pela crise pandémica. 

Com esta mobilização, exigimos: 

  • O cancelamento de todos os projetos que acarretem o aumento de emissões, como a construção do aeroporto do Montijo, a expansão do aeroporto da Portela e a expansão de portos (como o de Sines, Setúbal e Leixões);
  • A revogação do Decreto-lei 109/94, que permite a exploração de combustíveis fósseis em Portugal;
  • O fim dos subsídios aos combustíveis fósseis;
  • O fim do investimento na aviação (meio de transporte mais poluente);
  • O fim das dragagens no rio Sado, que provocam a destruição dos ecossistemas, apenas para aumentar as emissões ligadas aos navios de mercadorias;
  • A rejeição de acordos de livre comércio, como o UE-Mercosul. 

E reivindicamos:

  • Criação de centenas de milhares de empregos para o clima nos setores-chave que reduzam as emissões (energia, transportes, floresta, construção, etc) e realizem uma transição justa;
  • Encerramento das infraestruturas mais poluentes, garantindo a proteção e requalificação dos trabalhadores;
  • Desmantelar as empresas petrolíferas, que têm uma responsabilidade direta não só nas emissões, mas também na militarização das zonas indígenas e na expulsão das comunidades locais nos países no Sul Global;
  • Criação de uma empresa pública de energias renováveis que lidere o processo de produção e distribuição de energias acessíveis e verdes;
  • Expandir a ferrovia nacional e internacional para que pessoas e mercadorias possam ser transportadas de forma mais ecológica, contribuindo para a coesão e interligação do território;
  • Melhorar a rede de transportes públicos em todo o território, tornando-os eletrificados, acessíveis e gratuitos de modo a haver um abandono progressivo do transporte individual;
  • Criação de um plano habitacional em que a) o acesso à habitação seja garantido a toda a população independentemente do seu estatuto socioeconómico, b) haja um verdadeiro plano de eficiência energética e de descontaminação dos edifícios públicos e c) procure encontrar soluções alternativas para edifícios que possam vir a ser afetados pelas alterações climáticas;

  • Criar um novo plano nacional florestal e agrícola fundamentado na agroecologia e permacultura, reduzindo a agricultura e pecuária intensivas, beneficiando a produção local e favorecendo um progressivo aumento da capacidade de auto-aprovisionamento alimentar em Portugal;
  • Incentivar projetos benéficos às zonas rurais e adequar as áreas florestais nacionais às condições climáticas actuais e futuras, apostando na diversificação de espécies e na promoção de árvores autóctones, numa perspetiva de aumento de resiliência face a incêndios e diversificação de usos florestais nas áreas rurais;
  • Tornar o estudo das alterações climáticas e ecologia parte do currículo obrigatório em todas as disciplinas de aprendizagem essencial, em todas as escolas.

Voltamos à ação porque, face a todas as promessas vazias, precisamos de um plano real, construído pelo movimento por justiça climática, por todas as pessoas, para todas as pessoas. 

Este é o ano para recomeçarmos e recuperarmos

No dia 19 de Março voltamos à ação para liderar o caminho de saída destas crises. 2021 é o ano para recomeçar e recuperar. Precisamos de um plano para recuperar o clima, recuperar a saúde pública e regenerar a economia, para uma que ponha a vida no centro. 

O cumprimento dos prazos que enfrentamos está nas nossas mãos. Apenas nós podemos construir um futuro seguro.

O mundo está a contar connosco 

Em contrarrelógio erguemo-nos para lutar por justiça climática. No dia 19 de Março voltamos à ação porque não há tempo a perder. A luta pelo futuro já começou e não pode ser adiada. O mundo está a contar connosco!

É hora de acertarmos o relógio: não temos tempo para mais promessas em vão. 



Organizações subscritoras:

A Coletiva

Academia Cidadã

AmbientalIST

ANIMAR – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local

ANP WWF

Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis

Bloco de Esquerda

Brigada Estudantil

CIDAC

ClimAção Centro

Climáximo

Com Calma

GEOTA

Grupo EducAR – Educação Antirracista

HABITA!

Liga para a Protecção da Natureza

Linha Vermelha

LIVRE

NAPA ISCSP

PAN – Pessoas Animais Natureza

Parents For Future Portugal

Plantar Uma Árvore

Plataforma Já Marchavas

QUERCUS

RUA – Rede Unitária Antifascista

SOS Racismo

SOS Terras do Cávado

STOP Despejos

TROCA

União Antifascista Portuguesa

Para as organizações subscreverem este manifesto devem enviar um email para nacional@greveclimaticaestudanti.pt

“Climate Clock”, Nova Iorque

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